Um amor especial

Hoje eu vou falar de um assunto muito importante para todos nós e especial para mim. Como alguns sabem, eu faço curso de pedagogia mas já atuo na área e tenho verdadeira paixão pelo que eu faço. Esse bimestre minha faculdade propôs um trabalho muito legal para fazermos falando sobre inclusão social. Fazer uma análise aos olhos das crianças e de um professor que tenha contato com alguma criança especial. Vou dividir aqui com vocês um pouquinho da visão das crianças de como é ter um amigo especial e a entrevista feita com a professora também.

Segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), no 9.394/96 (Brasil, 1996), no Capítulo III, art. 4º, inciso III, diz que é dever do Estado garantir o “atendimento educacional especializado gratuito aos educandos com necessidades especiais, preferencialmente na rede regular de ensino”. Entretanto não é um dever somente do Estado, mas um conjunto de ações e medidas a serem tomadas entre profissionais capacitados da educação, família, sociedade e materiais necessários. 
A criança número 1 disse ter um amigo que é autista. Perguntei a ela se sabia o significado disso, então me explicou que sua mãe disse que é quando uma pessoa tem dificuldades em fazer algumas coisas, mas ela é muito inteligente. :  Comentou que o olhar dele é diferente e que “ele gosta de olhar as coisas bem pequenas” (olha apenas os detalhes e não as coisas como um todo);
Apesar das diferenças citadas, a aluna disse achar ele uma criança normal como as outras e que gosta até mesmo de brincar junto com ele (somente quando ele quer).
Falou que ele era especial, pois eles conseguiam brincar mesmo sem conversarem. Disse se entenderem muito bem. 




A segunda criança  fez um desenho sobre sua prima que teve uma paralisia infantil muito grave quando nasceu e hoje, com 7 anos ainda não fala, anda ou se move. Ela tem ciência da situação da prima, mas a trata como uma criança absolutamente normal. Após desenhar, me relatou que a prima anda em uma cadeira de rodas, mas que desenhou ela em pé primeiramente por que não sabia desenhar uma cadeira de rodas, mas também que não fazia diferença ela estar em uma cadeira, pois brincavam da mesma forma que com outras crianças. No desenho estão a prima, ela e a tia (na ordem) se preparando para brincar de pega-pega. Disse que a tia auxilia empurrando a cadeira para que hora ela seja a pegadora, e hora ela fuja. Perguntei como ela sabia que sua prima gostava, e ela respondeu que ela dava risadas e fazia um rosto feliz.

A aluna desenhou ela, sua prima, mãe e terapeuta. Relatou que a prima é diferente pois percebe que frequentemente tem alguém a acompanhando na escola, atividades que faz e até mesmo em casa. Disse que brinca normalmente com a prima e que ela é muito carinhosa, mas algumas vezes chora muito e não fala a ninguém o motivo, fica nervosa quando não consegue fazer algo que deseja. 


As três crianças que fizeram as representações, estão inseridas em meios onde a inclusão social é ensinada e colocada em prática. São tratadas da mesma forma, e cada um tem suas necessidades atendidas de maneira especial onde nem as crianças especiais são tratados com diferença e nem seus colegas sentem-se desprezados ou tratados melhor.

Agora um pedacinho da entrevista com a professora que tem um aluno especial numa sala de aula em escola regular:
  • Quando você iniciou o seu trabalho com uma criança especial? Qual a dificuldade desta?

Iniciei meu trabalho em 2009, quando entrei na universidade e visitei algumas salas, conhecidas como salas em escolas-modelos que, naquela região, recebiam crianças, cujo período formal, participavam como alunos de inclusão, e no período extra, faziam suas terapias nessas salas de aula, com psicopedagogas e terapeutas ocupacionais. Já em 2014, recebi meu aluno cujo diagnóstico era autismo.
Como nunca havia lidado com uma criança com espectro, foi algo novo onde pude trazer a teoria para a prática de tudo o que havia aprendido e interiorizado durante a graduação. A minha maior dificuldade foi lidar com o olhar de sua acompanhante que, inicialmente, me deixava um pouco inibida, pois não conseguia captar com que olhar ela se mantinha no ambiente escolar – mas depois compreendi que seu olhar atento, seria de observação em prol de nos orientar para ajudar à melhor forma, no desenvolvimento deste aluno; e com a questão da conquista do acesso e do vínculo.
  • Cite um momento de grande dificuldade e ou outro bem marcante, na sua trajetória como professora (atuante com essa criança).

Tivemos uma grande dificuldade para medir a temperatura da criança. Ela estava amoada, bem quente, alimentou-se pouco e ficou deitada em nosso colo, porém, irritou-se muito só de ver o aparelho de medição. Embora com muito diálogo, neste dia, não conseguimos medir, mesmo com a intervenção de sua acompanhante. Depois de algumas semanas, quando ele apresentou estado febril novamente, com o vínculo estabelecido, ele permitiu que medíssemos e hoje não enfrentamos mais este desafio.
Em relação aos momentos marcantes, cada dia é um momento marcante para mim: Ver seu sorriso, suas conquistas, suas respostas, o diálogo que tem aumentado gradativamente, suas ousadias e sua compreensão de mundo que tem surgido mostram que todas as nossas intervenções (da escola e da equipe que o acompanha), têm colaborado em seu processo de desenvolvimento.
  • Que tipo de ação pode ser sugerida, no sentido de tornar eficaz a inclusão do aluno com deficiência na escola regular?

A escola regular precisa regulamentar condições específicas e planejadas para a movimentação destes alunos, incluindo participação e possibilidade de locomoção para todos os ambientes sem a necessidade de um acompanhante ou ajuda física integral. Que a equipe esteja preparada, sem preconceitos e consciente das particularidades que serão desenvolvidas ao longo do ano a partir de sua ingressão ao ambiente escolar.
  •  Acredita que há preconceito em relação ao tema?

Sim. Muitas pessoas demonstram medo ou receio de aceitar um aluno que entre neste “estereotipo” de inclusão. Medo de não conseguir lidar, medo da criança precisar de uma atenção maior que os demais alunos e de como trazer este conhecimento à turma que receberá esta criança.
  • Qual a vantagem para um aluno sem deficiência estudar ao lado de uma criança com deficiência?

Não considero uma vantagem, mas sim, uma passagem significativa de um(a) amigo(a) que se tornará inesquecível como as outras crianças desta sala que, assim como elas, possui histórias de vidas diferentes, desafios diferentes e/ou semelhante, mas também possuem sentimentos, lembranças, curiosidade e anseio por aprender.
E nesse aspecto, quem precisa se policiar, somos nós adultos, que não podemos engessar nosso olhar e predominar na crítica de que ele está desenvolvendo menos que os demais. Pelo contrário: precisamos nos atentar a cada conquista, pois, dentro de seu processo de desenvolvimento não natural, ele terá muitas vitórias frente aos seus desafios singulares segundo seu diagnóstico.
  • Como a convivência entre as pessoas diferentes pode contribuir para as inteligências que cada um de nós possui?

Através das vivências, trocamos experiências, vivenciamos situações diferentes provenientes de ideias e contextos diferentes que geram embates e conflitos de pensamentos e posturas. Nestes conflitos, adquirimos o processo de desafios que, ao serem superados, nos possibilitam evoluir em diversos âmbitos de nosso processo de desenvolvimento.
  • O professor (de uma maneira geral) está preparado para a inclusão?

Quando realizei meu Trabalho de Conclusão de Curso, pude constatar em muitos artigos e pesquisas, que, os professores, de modo geral, não estão preparados para a inclusão. O que eles apontam é que, durante a graduação não existe o preparo aprofundado. São realizadas pinceladas da temática e explanação de alguns diagnósticos. Não são apresentadas atividades que são realizadas na prática e, que, neste sentido, ao lidar com um aluno de inclusão, o professor se sente num ciclo de testes a partir de seu senso comum do que realizar, de que atividades aplicar e como realizar a integração dos alunos de sua turma.
Como aponta Campos (2007):
Ao manter a pedagogia tradicional a escola exclui, reprova e torna fracassado o aluno que não está dentro dos padrões estabelecidos por ela, que homogeneíza aos alunos. Trata como iguais os cidadãos e esquece os indivíduos. Apostando na inclusão, esse é o primeiro passo para o fracasso (p. 05).
Ishikawa (2012) traz que:
A autora ainda aponta que o despreparo dos professores ocorre, tradicionalmente nos cursos de formação acadêmica e nos cursos de capacitação, onde os profissionais são treinados e habilitados para o ensino de suas disciplinas, não sendo valorizada a necessidade de lidarem com o afeto e com os conflitos e sentimentos dos alunos.
  • Como foi sua reação ao saber que teria um aluno especial?

Numa reunião a respeito do processo de transição dos alunos, disse que me interessaria muito, em ficar com a turma que este meu aluno fizesse parte. Então fiquei feliz, em saber que teria esta oportunidade.
  • Qual foi a maior dificuldade? Como era o convívio com outras crianças? Como era a sala e o número de alunos?

Ano passado, tinha 10 alunos. Neste ano, estamos em 9. Os alunos já possuíam convívio anterior, e se mantiveram na mesma turma, durante o período de transição.
Inicialmente, o maior desafio era estabelecer o vínculo e promove-lo não somente entre o aluno e nós, educadoras, mas também com todos os alunos que, percebem que o contato ainda não acontece com frequência entre pares.
R.I.

Por fim, espero que tenham gostado do post e desculpem por ser um pouco diferente do que postamos aqui, mas ele fala de amor também. Tenho muita vontade de trabalhar com crianças especiais mas não para isolá-las do restante do mundo, mas sim apresentar maneiras de que elas possam enxergar o mundo segundo a ótica delas. Ter um vida normal e que a diferença não venha se uma barreira na vida delas.O ser humano é totalmente adaptável podendo assim uma criança com necessidades especiais conviver normalmente com outras crianças em uma escola regular bastando apenas que lhe seja dado o suporte necessário para isto. Você que é pedagogo ou professor, compartilhe sua opinião aqui em baixo!

Com carinho,


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