Sobre abandono e amor



Às vezes eu me pego pensando no abandono. Como evitar que alguém nos abandone, nos deixe, nos evite, nos elimine de sua vida? Como evitar que eu mesma faça isso com alguém? Existe alguma fórmula? Será que existe alguma coisa que eu possa fazer para garantir que as pessoas não me abandonem?

E, pensando muito e ponderando sobre isso eu cheguei à uma conclusão: não. Não existe nada que possamos fazer, porque não podemos controlar os sentimentos das pessoas, as reações delas. Poderíamos de certa forma manipulá-las, obrigá-las com nossas chantagens a nunca nos deixar. Mas, isso é coerção, é forçar sentimentos, é forçar companhia. Isso não é amor.

E aí eu entendi que só tem uma coisa que podemos fazer em relação a isso tudo: amar mais. Sim. Quando queremos criar um muro e queimar as pontes que nos ligam às pessoas, por medo da vulnerabilidade de amar, é quando devemos amar mais. Criar pontes, quebrar muros. Sem medo. Sabe por quê? Porque se o abandono vier - e às vezes ele vem e é inevitável - nós poderemos olhar para aquele relacionamento - seja ele romântico, familiar, entre amigos - e perceber que doamos. Que demos nosso melhor. Que nos esforçamos.

O tempo gasto com aquela pessoa não foi em vão. Nada é em vão quando existe amor. Quando existe esforço. Mesmo que o abandono venha, mesmo que ele doa mais do que você consiga suportar, nada foi em vão. Você tentou, você amou, você confiou - e isso tem valor. Mesmo que a outra pessoa vá embora, acredite, isso tem valor em você e para você. Você aprendeu, você cresceu, você não desistiu.

Amar é ser vulnerável o suficiente para tentar. Não vulnerável ao ponto de ser inconsequente, mas ao ponto de saber que você doou o máximo de você por algo que acreditou ser merecedor. É estar de braços abertos, de cara limpa e coração leve. Mesmo que isso não seja reconhecido. Você fez sua parte.

Confie em Deus. Reconheça que Ele é Rei Soberano, que controla tudo de forma intencional e poderosa. Se o abandono vier, recorde que você amou e serviu e doou o seu melhor. E Deus agiu da maneira que Ele quis e considerou melhor para você e para quem te abandonou. Tudo coopera pro bem dos que O amam. Tudo. Até abandonos.

C. S. Lewis tem uma das citações mais poderosas que eu já vi, e termino com ela:

Amar é sempre ser vulnerável. Ame qualquer coisa e certamente seu coração vai doer e talvez se partir. Se quiser ter a certeza de mantê-lo intacto, você não deve entregá-lo á ninguém, nem mesmo a um animal. Envolva-o cuidadosamente em seus hobbies e pequenos luxos, evite qualquer envolvimento, guarde-o na segurança do caixão de seu egoísmo. Mas nesse caixão – seguro, sem movimento, sem ar - ele vai mudar. Ele não vai se partir – vai tornar-se indestrutível, impenetrável, irredimível. A alternativa a uma tragédia ou pelo menos ao risco de uma tragédia é a condenação. O único lugar além do céu onde se pode estar perfeitamente a salvo de todos os riscos e perturbações do amor é o inferno.


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